sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A LÓGICA DA INVESTIGAÇÃO “A lógica, disse o iconoclasta pensador pragmatista inglês F.S. Schiller, não passa de trivialidade técnica... boa apenas para confundir estudantes em exames e imprópria para um mundo de acaso e mudança. (....) Schiller, é claro estava condenando apenas a lógica formal. Mas seus comentários facilitaram-nos o caminho para procurar respostas através do que foi denominado a ‘lógica da investigação’, formulada por Jhon Dewey. (...) Enquanto que a lógica formal lida com as formas de argumentação, a lógica da investigação procura estabelecer os princípios que os homens devem observar a fim de chegarem a conclusões válidas. Investigar, disse Dewey, é resolver uma situação problemática. Isso requer seis etapas, que serão agora descritas num contexto escolar. a. Na concepção de Dewey, todo o pensamento é em resposta a alguma dificuldade que não pode ser superada por meio de instinto ou rotina. O estudante defronta-se com tais dificuldades o tempo todo, pois está sempre aprendendo algo novo. Suponha-se, pois, que eu sou um aluno de segundo grau estudando os acontecimentos que culminaram na II Guerra Munidial. b. Algum tempo depois, deixo de estar meramente insatisfeito. Compreendo que a matéria que estou aprendendo precisa, de algum modo, de receber um significado. Ora, se fui ensinado a pensar logicamente, não excluo minha insatisfação, mas coloco-a na forma de um problema ou uma questão a ser resolvida. Por que aconteceu a II Guerra Mundial? c. Tendo formulado o problema, devo encontrar informações para resolvê-lo. (...) O problema sugere outras áreas a serem exploradas; as informações que recolho sugerem soluções possíveis (hipóteses-grifo meu) para o problema. d. Meu próximo passo é avaliar essas possibilidades para ver até que ponto cada uma delas é compatíveis com os fatos à minha disposição e com outras hipóteses que me ocorreram. e. Passo então a testar experimentalmente as hipóteses mais promissoras, deduzindo suas conseqüências mais prováveis e verificando se essas conseqüências subsistem. f. Finalmente, coordeno as hipóteses que verifiquei objetivamente. Todas essas asserções, entretanto, são conjecturas, uma vez que informações subseqüentes, hipóteses mais amplas ou penetrantes, ou simplesmente uma reflexão mais profunda podem invalidá-las no todo ou em parte. Assim o conhecimento que adquiri é provisório. Mas, é uma base para novas investigações.... Quais as características especiais desse tipo de pensamento? Em primeiro lugar, é científico. Leva-me a definir um problema, coletar informações, propor hipóteses, predizer suas conseqüências e verificá-las experimentalmente, além de coordenar as conlusões. Em segundo lugar é crítico. Faz-me considerar possibilidades alternativas, examinar quantos fatos posso, protelar o julgamento até que os fatos tenham sido verificados, e verificar idéias com referências mais aos fatos do que às preferências pessoais. Faz-me relutar em aceitar as coisas como axiomáticas e leva-me a considerar todo o conhecimento como provisório e sujeito a revisão. Finalmente, é reflexivo. Impede-me que salte precipitadamente para as conclusões. Em vez de fazer a primeira coisa que me vem à cabeça, faço uma pausa para considerar se existem melhores alterantivas. (Kneller, George. Introdução à Filosofia da Educação. 8ed. RJ: Guanabara Koogan as. )

REASSUMINDO A SENSATEZ
Prof. Thomaz (mestre em educação).
De acordo com a psicologia,  o caráter é a propensão de ânimo que cada um traz consigo desde o nascimento. Embora seja inato do ser humano,  o caráter também pode ser modelado pelo ambiente cultural em que se vive, por isso a participação de pais, professores e todos os educadores que perpassam  da igreja ao meio familiar.
Um dos maiores sábios que a humanidade viu surgir foi Aristóteles, para ele o caráter do homem corresponde ao estilo de vida que alguém escolhe levar. O homem feliz é o que age racionalmente, cultua bons hábitos de modo disciplinado e o infeliz é o ignorante, submetido aos impulsos da vontade. Nesse sentido, ele descreve que o homem deve procurar sempre pautar a sua conduta com vista ao equilíbrio.
Para Aristóteles, a virtude é o que está no meio entre o vício por excesso e o vício por falta. Só para exemplificar, em um quadro de virtudes, a coragem é a virtude que tem por vício em excesso, o destemido e o vício por falta,  o covarde; quanto ao trato com dinheiro,  a virtude é a liberalidade  e o vício por excesso  a  prodigalidade e no extremo oposto a avareza.  Aristóteles ainda diz, ao homem feliz não pode faltar a magnanimidade, no que pese a postura  “São mais adequados a uma pessoa magnânima um andar lento, uma voz grave e uma dicção cuidada, pois não se deve esperar que as pessoas que se preocupam com poucas  coisas sejam apressadas, nem que as que não consideram coisa algum realmente grande sejam agitadas; uma voz estridente e um andar precipitado denotam pressa e agitação”. ( 81) .
De outro lado estão as críticas de Nietzsche, até que ponto, sobre a roupagem de tantos penduricalhos,  descritos como valores,  sobre o modo como devem agir os homens, esses continuam realmente a serem homens. Com a crítica sobre a moral tradicional esse filósofo faz lembrar do que é ser realmente humano, sem as armadilhas culturais que terminam por aprisionar o humano dentro de nós. O homem tem desejos e energias o quais são negadas, aprisionadas num falso moralismo. Por isso, Nietzsche crítica a tradição filosófica e religiosa que subverteram o homem, o qual para negar  tais energias, se tornam  frustrados, rancorosos, puritanos demais para aceitar as inovações que a evolução vai fazendo surgir.
Por falar em energia, Freud antes de Nietzsche já chamava atenção para os problemas que podem ser causados a psiquê ( a mente)  do homem,  quando não sabe lidar corretamente com as energias puramente humanas:  os cacoetes, os atos falhos, tiques nervosos e "trocentos" outros número de  traumas jogados para o inconsciente, os quais em um dado momento voltam para reafirmar a necessidade  de solução.
Então, alguém pode se perguntar, devemos tudo permitir para evitar os problemas psicológicos ou criticar a todas atitudes que não se apresentam em sintonia com o tradicional estabelecido?
Na verdade, já se nega o tradicional estabelecido quando supomos um permitido sutil,  quando dizemos: _  meu filho não devemos pegar nada dos outros e devemos sempre falar a verdade! Porém, imediatamente ao tocar o telefone e sendo nosso filho a atender, dizemos quase cochichando e com tom afirmativo: _  diga que eu não estou em casa! Afinal é para criança dizer a verdade  ou não é?
Do outro lado,  a permissividade é um mal que tem de ser tolhido. Kant já dizia que para se observar se um comportamento é desejável,  é só imaginá-lo sendo praticado em sentido universal, praticado por todas as pessoas em toda circunstância e lugar. Assim, mentir não é bom, pois se o fosse,  ninguém poderia mais confiar em ninguém ou em nada, tornando inviável a convivência conjunta. Da mesma maneira matar, roubar, ser desonesto, enfim tudo o que se considera vício ou erro.
Talvez tenhamos que observar uma dos critérios de Descartes em seu Discurso do Método, todo o homem é dotado de bom senso. Devemos buscar o equilíbrio, não o equilíbrio aristotélico, mas um equilíbrio do bom-senso.  Em dada situação devemos não ter pressa em julgar os outros, não sair por aí condenando a todos indiscriminadamente, a menina que abortou, por não ter visto nenhuma outra saída para o seu desespero. O garoto que pegou um lanche de bobeira porque já estava morrendo de fome, etc. Isso, também,  não quer dizer que devamos ser condescendentes, apenas não sair por aí julgando a tudo imediatamente e indiscriminadamente.
Os valores que a humanidade estabeleceu e que estão escritos nos livros de ética, são modelos a serem atingidos, deve-se aproximar ao máximo do ideal, mas cada circunstância requer ajustes. Nietzsche tem certa razão, sim, o homem não pode negar todos os seus impulsos, do contrário não sobrevive neste mundo. O homem não pode todo tempo procurar sem "bonzinho", senão corre o risco de ser o "bobinho". Por outro lado, os valores da tradição ocidental, que Sócrates, Platão, Aristóteles, os filósofos Crsitão, Kant e outros escreveram não são apenas coisas de pessoas "caretas" e recalcadas.


O QUE É IDEOLOGIA (Marilena Chauí).

    O real não é constituído por coisas. Nossa experiência direta e imediata da realidade nos leva a imaginar que o real é feito de coisas, isto é , de objetos físicos, psíquicos, culturais oferecidos à nossa percepção e às nossas vivências. (...) Isto, porém, não implica em afirmar o oposto, isto é, se o real não é constituído de coisas, então será constituído por idéias ou por nossas representaçõesdas coisas. Se fizéssemos tal afirmação, estaríamos na ideologia em estado puro, pois para esta última a realidade é constituída por ideias das quais as coisas seriam uma espécie de receptáculo...
    O empirismo considera que o real são fatos ou coisas observáveis e que o conhecimento da realidade se reduz a experiência sensorial que temos dos objetos cujas sensações se associam e formam ideias em nosso cérebro. O idealista, por sua vez, considera que o real são ideias ou representações e que o conhecimento da realidade se reduz ao exame dos dados e das operações de nossas consciências ou do intelecto como atividades produtora de ideias que dão sentido ao real e o fazem existir para nós.  Tanto num caso como no outro, a realidade é considerada como um puro dado imediato: um dado dos sentidos, para o empirista, ou um dado da consciência, para o idealista.  Ora, o real não é um dado sensível nem um dado intelectual, mas é um processo, que depende fundamentalmente do modo como os homens se relacionam entre si em com a natureza. É,portanto, das relações sociais que precisamos partir para compreender o quê, como e por que os homens agem e  pensam de maneira determinadas, sendo capazes de atribuir sentido a tais relações, de conservá-las ou de transformá-las.
Nesta perspectiva, a história é o real e o real é o movimento incessante pelo qual os homens, em condições que nem sempre foram escolhidas por eles, instauram um modo de sociabilidade e procuram fixa-lo em instituições determinadas(...) Além disso, os homens produzem ideias ou representações pelas quais procuram explicar e compreender sua própria vida individual, social, suas relações  com a natureza e com o sobrenatural. Essas, ideias, no entanto, tenderão a esconder dos homens o modo real como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Esse ocultamento da realidade social chama-se ideologia. Por seu intermédio, os homens legitimam as condições sociais de exploração e de dominação, fazendo com que pareçam verdadeiras e justas.
O processo histórico real, observa(grifo meu) que cada nova classe em ascensão que começa a se desenvolver dentro de um modo de produção que será destruído quando essa nova classe dominar, cada classe emergente precisa formular seus interesses de modo sistemático e, para ganhar o apoio do restante da sociedade contra a classe dominante existente, precisa fazer com que tais interesses apareçam como interesses de toda a sociedade. (...) A nova classe emergente precisa dar às suas ideias a maior universalidade possível, fazendo com que apareçam com verdadeira e justas para o maior número possível de membros da sociedade. Porém, uma vez alcançada a vitória e a classe ascendente tornando-se dominante, seus interesses passam a ser particulares, isto é, são apenas seus interesses de classe. No entanto, agora, tais interesses precisam ser mantidos com aparência de universais, porque precisam legitimar o domínio que exerce sobre o restante da sociedade. Esse é o papel da ideologia. O papel expecífico da ideologia como instrumento da luta de classes é impedir que a dominação e a exploração sejam percebidos em sua realidade concreta. Para tanto, é função da ideologia dissimular e ocultar a existência das divisões sociais como divisões de classes, escondendo, assim, sua própria origem.
    Porque a ideologia legitima a dominação da classe dominante, compreende-se por que a história ideológica seja sempre uma história narrada do ponto de vista do vencedor ou dos poderosos. Por isso os dominados aparecem nos textos dos historiadores sempre a partir do modo como eram vistos e compreendidos pelos próprios vencedores. Daí que, a luta dos escravos estão sem registro e tudo que delas sabemos está registrado pelos senhores brancos. Não há direito à memória para o negro. Nem para o Índio. Nem para os camponeses. Nem para os operários. Graças a esse tipo de história, a ideologia burguesa pode manter sua hegemonia mesmo sobre os vencidos, pois estes interiorizam a suposição de que não são sujeitos da história, mas apenas seus pacientes.

( Marilena Chauí. O que é ideologia. 37ed. SP:Brasiliense, 1994)

APARTHEID: A ORIGEM DO CONCEITO
Um dia destes no estacionamento de um McDonald’s, em Brasília, dois jovens dentro de um carro,  se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assistia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito.(...)
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes, os quais viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.(...)
Não se pode dizer que o apartheid começou com os brando da África do Sul. Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os homens entre eles e os outros, os bárbaros. Os primeiros nasciam para a liberdade e a riqueza da cultura, os outros, para trabalhar como escravos.
Só muito recentemente, há cerca de um século foi que passamos a viver em um planeta onde os direitos iguais foram se afirmando de maneira generalizada. A escravidão não acabou, mas passou a ser vista como um fenômeno raro, indesejado, bárbaro e repugnante.
Mesmo assim a desigualdade não diminuiu.
Apesar do fim da propriedade de seres humanos por outros, a desigualdade continuou, dependendo da nação, classe social, raça, sexo, ou simplesmente da sorte. E essa desigualdade cresceu. Ainda que os direitos sejam estendidos igualmente a todos, a civilização avançou aumentando a desigualdade.
A partir de meados deste século, as coisas começaram a mudar. A urbanização mostrou o mundo moderno para todos. Criou desejos adicionais e realizou o conformismo, cresceram as tensões sociais, os pobres ameaçaram com revoluções, os ricos se defenderam com ditaduras.
Essa situação ocorreu de maneira mais dramática na África do Sul. Até o final dos anos 40 a desigualdade econômica entre brancos e negros existia sem necessidade de leis especiais que separassem fisicamente uns dos outros. A população negra se submetia à discriminação exercida pela minoria branca.
A urbanização, o crescimento econômico concentrado para os brancos e a rebeldia da maioria negra forçaram a implantação, em 1950 da Lei do Registro de População. Criou-se um sistema legal que mantinha os grupos sul-africanos separados. Um conjunto de leis explicitou, determinou e regulou a separação entre as partes da sociedade. A nova lei classificou os habitantes da África do Sul em três categorias: os africanos ou negros, os de cor ou mestiços e os brancos.
A esse sistema deu-se o nome de APARTHEID, que no idioma africâner, falado pelos brancos sul-africanos, quer dizer separação, apartação.
Novas leis surgiram complementando o desenvolvimento separado na África do Sul. Foram regulamentadas as áreas onde as pessoas poderiam residir, trabalhar e circular conforme sua cor: consolidou-se a necessidade de passaporte para os não-brancos circularem entre as áreas, proibiram-se contatos sociais, inclusive casamentos, entre pessoas de raça diferentes, foram estabelecidos sistemas segregados de educação com diferentes padrões e qualidade, definiram-se tipos de empregos para cada raça, foram restringidos os movimentos sindicais de trabalhadores não-brancos e negou-se a participação política aos não-brancos nos processos parlamentares e governamentais.
O sistema foi implantado visando garantir e ampliar a concentração dos privilégios dos brancos. Não foi o apartheid que causou a desigualdade entre brancos e negros na África do Sul. Foi a desigualdade crescente que levou os brancos a implantar o aparthaid, como forma de conservar e ampliar seus privilégios, inviáveis se fosse feita uma distribuição equitativa dos resultados do progresso. (...)
Foi graças a esse sistema que a economia sul-africana desenvolveu-se e enriqueceu, do ponto de vista dos brancos, impedindo a ameaça política que ocorreria em um sistema não apartado, o apartheid foi o sistema social que permitiu o surto de desenvolvimento econômico da África do Sul. Evitando a distribuição de renda, garantiu a formação de uma base de consumidores de alta renda e os recursos necessários aos investimentos.
O que mudou com o apartheid não foi o aumento da desigualdade, mas a afirmação da diferença e com esta a aceitação sem constrangimento, da desigualdade crescente. Ao se sentirem diferentes em relação aos negros, os brancos incorporaram uma nova ética que lhes permitiu não sentir responsabilidade nem culpa diante da desigualdade. Da mesma forma como os europeus não sentiam antes com os escravos ou com os índios das Américas e como os ricos brasileiros começam a não sentir diante da pobreza urbana, da fome ao redor, da mortalidade infantil, do assassinato de menino de rua.

(Cristovam Buarque. O que é apartação. O apartheid social no Brasil. Brasiliense, 1993).APARTHEID: A ORIGEM DO CONCEITO
Um dia destes no estacionamento de um McDonald’s, em Brasília, dois jovens dentro de um carro,  se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assistia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito.(...)
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes, os quais viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.(...)
Não se pode dizer que o apartheid começou com os brando da África do Sul. Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os homens entre eles e os outros, os bárbaros. Os primeiros nasciam para a liberdade e a riqueza da cultura, os outros, para trabalhar como escravos.
Só muito recentemente, há cerca de um século foi que passamos a viver em um planeta onde os direitos iguais foram se afirmando de maneira generalizada. A escravidão não acabou, mas passou a ser vista como um fenômeno raro, indesejado, bárbaro e repugnante.
Mesmo assim a desigualdade não diminuiu.
Apesar do fim da propriedade de seres humanos por outros, a desigualdade continuou, dependendo da nação, classe social, raça, sexo, ou simplesmente da sorte. E essa desigualdade cresceu. Ainda que os direitos sejam estendidos igualmente a todos, a civilização avançou aumentando a desigualdade.
A partir de meados deste século, as coisas começaram a mudar. A urbanização mostrou o mundo moderno para todos. Criou desejos adicionais e realizou o conformismo, cresceram as tensões sociais, os pobres ameaçaram com revoluções, os ricos se defenderam com ditaduras.
Essa situação ocorreu de maneira mais dramática na África do Sul. Até o final dos anos 40 a desigualdade econômica entre brancos e negros existia sem necessidade de leis especiais que separassem fisicamente uns dos outros. A população negra se submetia à discriminação exercida pela minoria branca.
A urbanização, o crescimento econômico concentrado para os brancos e a rebeldia da maioria negra forçaram a implantação, em 1950 da Lei do Registro de População. Criou-se um sistema legal que mantinha os grupos sul-africanos separados. Um conjunto de leis explicitou, determinou e regulou a separação entre as partes da sociedade. A nova lei classificou os habitantes da África do Sul em três categorias: os africanos ou negros, os de cor ou mestiços e os brancos.
A esse sistema deu-se o nome de APARTHEID, que no idioma africâner, falado pelos brancos sul-africanos, quer dizer separação, apartação.
Novas leis surgiram complementando o desenvolvimento separado na África do Sul. Foram regulamentadas as áreas onde as pessoas poderiam residir, trabalhar e circular conforme sua cor: consolidou-se a necessidade de passaporte para os não-brancos circularem entre as áreas, proibiram-se contatos sociais, inclusive casamentos, entre pessoas de raça diferentes, foram estabelecidos sistemas segregados de educação com diferentes padrões e qualidade, definiram-se tipos de empregos para cada raça, foram restringidos os movimentos sindicais de trabalhadores não-brancos e negou-se a participação política aos não-brancos nos processos parlamentares e governamentais.
O sistema foi implantado visando garantir e ampliar a concentração dos privilégios dos brancos. Não foi o apartheid que causou a desigualdade entre brancos e negros na África do Sul. Foi a desigualdade crescente que levou os brancos a implantar o aparthaid, como forma de conservar e ampliar seus privilégios, inviáveis se fosse feita uma distribuição equitativa dos resultados do progresso. (...)
Foi graças a esse sistema que a economia sul-africana desenvolveu-se e enriqueceu, do ponto de vista dos brancos, impedindo a ameaça política que ocorreria em um sistema não apartado, o apartheid foi o sistema social que permitiu o surto de desenvolvimento econômico da África do Sul. Evitando a distribuição de renda, garantiu a formação de uma base de consumidores de alta renda e os recursos necessários aos investimentos.
O que mudou com o apartheid não foi o aumento da desigualdade, mas a afirmação da diferença e com esta a aceitação sem constrangimento, da desigualdade crescente. Ao se sentirem diferentes em relação aos negros, os brancos incorporaram uma nova ética que lhes permitiu não sentir responsabilidade nem culpa diante da desigualdade. Da mesma forma como os europeus não sentiam antes com os escravos ou com os índios das Américas e como os ricos brasileiros começam a não sentir diante da pobreza urbana, da fome ao redor, da mortalidade infantil, do assassinato de menino de rua.
(Cristovam Buarque. O que é apartação. O apartheid social no Brasil. Brasiliense, 1993).APARTHEID: A ORIGEM DO CONCEITO
Um dia destes no estacionamento de um McDonald’s, em Brasília, dois jovens dentro de um carro,  se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assistia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito.(...)
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes, os quais viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.(...)
Não se pode dizer que o apartheid começou com os brando da África do Sul. Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os homens entre eles e os outros, os bárbaros. Os primeiros nasciam para a liberdade e a riqueza da cultura, os outros, para trabalhar como escravos.
Só muito recentemente, há cerca de um século foi que passamos a viver em um planeta onde os direitos iguais foram se afirmando de maneira generalizada. A escravidão não acabou, mas passou a ser vista como um fenômeno raro, indesejado, bárbaro e repugnante.
Mesmo assim a desigualdade não diminuiu.
Apesar do fim da propriedade de seres humanos por outros, a desigualdade continuou, dependendo da nação, classe social, raça, sexo, ou simplesmente da sorte. E essa desigualdade cresceu. Ainda que os direitos sejam estendidos igualmente a todos, a civilização avançou aumentando a desigualdade.
A partir de meados deste século, as coisas começaram a mudar. A urbanização mostrou o mundo moderno para todos. Criou desejos adicionais e realizou o conformismo, cresceram as tensões sociais, os pobres ameaçaram com revoluções, os ricos se defenderam com ditaduras.
Essa situação ocorreu de maneira mais dramática na África do Sul. Até o final dos anos 40 a desigualdade econômica entre brancos e negros existia sem necessidade de leis especiais que separassem fisicamente uns dos outros. A população negra se submetia à discriminação exercida pela minoria branca.
A urbanização, o crescimento econômico concentrado para os brancos e a rebeldia da maioria negra forçaram a implantação, em 1950 da Lei do Registro de População. Criou-se um sistema legal que mantinha os grupos sul-africanos separados. Um conjunto de leis explicitou, determinou e regulou a separação entre as partes da sociedade. A nova lei classificou os habitantes da África do Sul em três categorias: os africanos ou negros, os de cor ou mestiços e os brancos.
A esse sistema deu-se o nome de APARTHEID, que no idioma africâner, falado pelos brancos sul-africanos, quer dizer separação, apartação.
Novas leis surgiram complementando o desenvolvimento separado na África do Sul. Foram regulamentadas as áreas onde as pessoas poderiam residir, trabalhar e circular conforme sua cor: consolidou-se a necessidade de passaporte para os não-brancos circularem entre as áreas, proibiram-se contatos sociais, inclusive casamentos, entre pessoas de raça diferentes, foram estabelecidos sistemas segregados de educação com diferentes padrões e qualidade, definiram-se tipos de empregos para cada raça, foram restringidos os movimentos sindicais de trabalhadores não-brancos e negou-se a participação política aos não-brancos nos processos parlamentares e governamentais.
O sistema foi implantado visando garantir e ampliar a concentração dos privilégios dos brancos. Não foi o apartheid que causou a desigualdade entre brancos e negros na África do Sul. Foi a desigualdade crescente que levou os brancos a implantar o aparthaid, como forma de conservar e ampliar seus privilégios, inviáveis se fosse feita uma distribuição equitativa dos resultados do progresso. (...)
Foi graças a esse sistema que a economia sul-africana desenvolveu-se e enriqueceu, do ponto de vista dos brancos, impedindo a ameaça política que ocorreria em um sistema não apartado, o apartheid foi o sistema social que permitiu o surto de desenvolvimento econômico da África do Sul. Evitando a distribuição de renda, garantiu a formação de uma base de consumidores de alta renda e os recursos necessários aos investimentos.
O que mudou com o apartheid não foi o aumento da desigualdade, mas a afirmação da diferença e com esta a aceitação sem constrangimento, da desigualdade crescente. Ao se sentirem diferentes em relação aos negros, os brancos incorporaram uma nova ética que lhes permitiu não sentir responsabilidade nem culpa diante da desigualdade. Da mesma forma como os europeus não sentiam antes com os escravos ou com os índios das Américas e como os ricos brasileiros começam a não sentir diante da pobreza urbana, da fome ao redor, da mortalidade infantil, do assassinato de menino de rua.
(Cristovam Buarque. O que é apartação. O apartheid social no Brasil. Brasiliense, 1993).APARTHEID: A ORIGEM DO CONCEITO
Um dia destes no estacionamento de um McDonald’s, em Brasília, dois jovens dentro de um carro,  se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assistia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito.(...)
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes, os quais viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.(...)
Não se pode dizer que o apartheid começou com os brando da África do Sul. Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os homens entre eles e os outros, os bárbaros. Os primeiros nasciam para a liberdade e a riqueza da cultura, os outros, para trabalhar como escravos.
Só muito recentemente, há cerca de um século foi que passamos a viver em um planeta onde os direitos iguais foram se afirmando de maneira generalizada. A escravidão não acabou, mas passou a ser vista como um fenômeno raro, indesejado, bárbaro e repugnante.
Mesmo assim a desigualdade não diminuiu.
Apesar do fim da propriedade de seres humanos por outros, a desigualdade continuou, dependendo da nação, classe social, raça, sexo, ou simplesmente da sorte. E essa desigualdade cresceu. Ainda que os direitos sejam estendidos igualmente a todos, a civilização avançou aumentando a desigualdade.
A partir de meados deste século, as coisas começaram a mudar. A urbanização mostrou o mundo moderno para todos. Criou desejos adicionais e realizou o conformismo, cresceram as tensões sociais, os pobres ameaçaram com revoluções, os ricos se defenderam com ditaduras.
Essa situação ocorreu de maneira mais dramática na África do Sul. Até o final dos anos 40 a desigualdade econômica entre brancos e negros existia sem necessidade de leis especiais que separassem fisicamente uns dos outros. A população negra se submetia à discriminação exercida pela minoria branca.
A urbanização, o crescimento econômico concentrado para os brancos e a rebeldia da maioria negra forçaram a implantação, em 1950 da Lei do Registro de População. Criou-se um sistema legal que mantinha os grupos sul-africanos separados. Um conjunto de leis explicitou, determinou e regulou a separação entre as partes da sociedade. A nova lei classificou os habitantes da África do Sul em três categorias: os africanos ou negros, os de cor ou mestiços e os brancos.
A esse sistema deu-se o nome de APARTHEID, que no idioma africâner, falado pelos brancos sul-africanos, quer dizer separação, apartação.
Novas leis surgiram complementando o desenvolvimento separado na África do Sul. Foram regulamentadas as áreas onde as pessoas poderiam residir, trabalhar e circular conforme sua cor: consolidou-se a necessidade de passaporte para os não-brancos circularem entre as áreas, proibiram-se contatos sociais, inclusive casamentos, entre pessoas de raça diferentes, foram estabelecidos sistemas segregados de educação com diferentes padrões e qualidade, definiram-se tipos de empregos para cada raça, foram restringidos os movimentos sindicais de trabalhadores não-brancos e negou-se a participação política aos não-brancos nos processos parlamentares e governamentais.
O sistema foi implantado visando garantir e ampliar a concentração dos privilégios dos brancos. Não foi o apartheid que causou a desigualdade entre brancos e negros na África do Sul. Foi a desigualdade crescente que levou os brancos a implantar o aparthaid, como forma de conservar e ampliar seus privilégios, inviáveis se fosse feita uma distribuição equitativa dos resultados do progresso. (...)
Foi graças a esse sistema que a economia sul-africana desenvolveu-se e enriqueceu, do ponto de vista dos brancos, impedindo a ameaça política que ocorreria em um sistema não apartado, o apartheid foi o sistema social que permitiu o surto de desenvolvimento econômico da África do Sul. Evitando a distribuição de renda, garantiu a formação de uma base de consumidores de alta renda e os recursos necessários aos investimentos.
O que mudou com o apartheid não foi o aumento da desigualdade, mas a afirmação da diferença e com esta a aceitação sem constrangimento, da desigualdade crescente. Ao se sentirem diferentes em relação aos negros, os brancos incorporaram uma nova ética que lhes permitiu não sentir responsabilidade nem culpa diante da desigualdade. Da mesma forma como os europeus não sentiam antes com os escravos ou com os índios das Américas e como os ricos brasileiros começam a não sentir diante da pobreza urbana, da fome ao redor, da mortalidade infantil, do assassinato de menino de rua.
(Cristovam Buarque. O que é apartação. O apartheid social no Brasil. Brasiliense, 1993).APARTHEID: A ORIGEM DO CONCEITO
Um dia destes no estacionamento de um McDonald’s, em Brasília, dois jovens dentro de um carro,  se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assistia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito.(...)
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes, os quais viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.(...)
Não se pode dizer que o apartheid começou com os brando da África do Sul. Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os homens entre eles e os outros, os bárbaros. Os primeiros nasciam para a liberdade e a riqueza da cultura, os outros, para trabalhar como escravos.
Só muito recentemente, há cerca de um século foi que passamos a viver em um planeta onde os direitos iguais foram se afirmando de maneira generalizada. A escravidão não acabou, mas passou a ser vista como um fenômeno raro, indesejado, bárbaro e repugnante.
Mesmo assim a desigualdade não diminuiu.
Apesar do fim da propriedade de seres humanos por outros, a desigualdade continuou, dependendo da nação, classe social, raça, sexo, ou simplesmente da sorte. E essa desigualdade cresceu. Ainda que os direitos sejam estendidos igualmente a todos, a civilização avançou aumentando a desigualdade.
A partir de meados deste século, as coisas começaram a mudar. A urbanização mostrou o mundo moderno para todos. Criou desejos adicionais e realizou o conformismo, cresceram as tensões sociais, os pobres ameaçaram com revoluções, os ricos se defenderam com ditaduras.
Essa situação ocorreu de maneira mais dramática na África do Sul. Até o final dos anos 40 a desigualdade econômica entre brancos e negros existia sem necessidade de leis especiais que separassem fisicamente uns dos outros. A população negra se submetia à discriminação exercida pela minoria branca.
A urbanização, o crescimento econômico concentrado para os brancos e a rebeldia da maioria negra forçaram a implantação, em 1950 da Lei do Registro de População. Criou-se um sistema legal que mantinha os grupos sul-africanos separados. Um conjunto de leis explicitou, determinou e regulou a separação entre as partes da sociedade. A nova lei classificou os habitantes da África do Sul em três categorias: os africanos ou negros, os de cor ou mestiços e os brancos.
A esse sistema deu-se o nome de APARTHEID, que no idioma africâner, falado pelos brancos sul-africanos, quer dizer separação, apartação.
Novas leis surgiram complementando o desenvolvimento separado na África do Sul. Foram regulamentadas as áreas onde as pessoas poderiam residir, trabalhar e circular conforme sua cor: consolidou-se a necessidade de passaporte para os não-brancos circularem entre as áreas, proibiram-se contatos sociais, inclusive casamentos, entre pessoas de raça diferentes, foram estabelecidos sistemas segregados de educação com diferentes padrões e qualidade, definiram-se tipos de empregos para cada raça, foram restringidos os movimentos sindicais de trabalhadores não-brancos e negou-se a participação política aos não-brancos nos processos parlamentares e governamentais.
O sistema foi implantado visando garantir e ampliar a concentração dos privilégios dos brancos. Não foi o apartheid que causou a desigualdade entre brancos e negros na África do Sul. Foi a desigualdade crescente que levou os brancos a implantar o aparthaid, como forma de conservar e ampliar seus privilégios, inviáveis se fosse feita uma distribuição equitativa dos resultados do progresso. (...)
Foi graças a esse sistema que a economia sul-africana desenvolveu-se e enriqueceu, do ponto de vista dos brancos, impedindo a ameaça política que ocorreria em um sistema não apartado, o apartheid foi o sistema social que permitiu o surto de desenvolvimento econômico da África do Sul. Evitando a distribuição de renda, garantiu a formação de uma base de consumidores de alta renda e os recursos necessários aos investimentos.
O que mudou com o apartheid não foi o aumento da desigualdade, mas a afirmação da diferença e com esta a aceitação sem constrangimento, da desigualdade crescente. Ao se sentirem diferentes em relação aos negros, os brancos incorporaram uma nova ética que lhes permitiu não sentir responsabilidade nem culpa diante da desigualdade. Da mesma forma como os europeus não sentiam antes com os escravos ou com os índios das Américas e como os ricos brasileiros começam a não sentir diante da pobreza urbana, da fome ao redor, da mortalidade infantil, do assassinato de menino de rua.
(Cristovam Buarque. O que é apartação. O apartheid social no Brasil. Brasiliense, 1993).