segunda-feira, 28 de outubro de 2019


ARGUMENTAÇÃO PSICOLÓGICA
Quando uma pessoa apresenta e defende ideias diante dos outros, ela está fazendo argumentação. (... ) Podemos definir como argumento, qualquer conjunto de afirmações que inclua, pelo menos, uma conclusão. Quem apresenta um argumento seja uma criança, um professor universitário, pedreiro ou filósofo, usa premissas, às vezes chamadas de evidências, para defender ou fundamentar sua conclusão. Pressupõem-se que o ouvinte  aceitará  a conclusão, se levar as evidência em consideração. (....)
As funções dos argumento são tão diversas, quanto os motivos que nos levam a nos comunicar com os outros. Argumentos bem apresentados podem ajudar-nos a receber vantagens materiais, passar em provas, fundamentar as conclusões de uma investigação, iludir um freguês, racionalizar nossos erros, ridicularizar um oponente. ( .....) Podemos chamar esse tipo de atividade pragmáticos, no sentido de que a comunicação é instrumental, ao invés de ser apenas uma de representar ou de desenvolver conhecimento.
A pragmática trata das funções e dos significados da linguagem no contexto social. (.....) Após pisar no pé de uma outra pessoa inadivertidamente, a frase “Uai, eu não sabia que você estava aí”, seria interpretada como uma negação de intencionalidade, por parte do autor, e uma tentativa de reduzir a tensão sentida pelas duas partes em função do incidente. A linguagem promove interesses e desempenha funções sociais (....) Com as entonações certa, a frase “Uai, eu não sabia que você estava aí” , pode ter diversos significados, até mesmo transmitindo ironia e sarcasmo.
Quando um argumento é especialmente elaborado para apelar ao ouvinte, a argumentação resultante é chamada psicológica. A argumentação psicológica tem duas características básicas: 1- comprometimento forte: onde o que importa é defender uma ou mais conclusões, mesmo que implique numa distorção dos fatos; 2 – a evidência escolhida especialmente para convencer o ouvinte da validade das conclusões é normalmente emocional ou psicológica.
(.....) A finalidade da argumentação psicológica é vencer, conquistar ou provocar o ouvinte, e a evidência constitui a arma de ataque. Se o ouvinte demonstrar que a evidência não tem valor, de seu ponto de vista, o falante procura logo outras  evidências. Quem apresenta um argumento psicológico geralmente não está interessado em induzir contemplação e reflexão racional no ouvinte, muito pelo contrário, a finalidade é influenciar o outro, surpreendê-lo, ataca-lo inesperadamente, comunicar urgência, trabalhar os sentimentos do outro para dominar a questão, e, assim, salientar certos aspectos e menosprezar outros de modo que as defesas do ouvinte não possam entrar em ação.
Para o falante, as conclusões não são o resultado de uma avaliação das evidências, por mais que se insista que o sejam, mas, sim, o próprio ponto de partida do argumento. Observações que possivelmente iriam colocar uma conclusão em perigo são ignoradas ou ativamente menosprezada de diversas maneiras.
 (.....) O fato de uma pessoa usar um argumento psicológico não implica em que ela esteja necessariamente defendendo um ponto de vista errado, ou que não considere fatos relevantes. O problema é que o argumento é de tal forma, que o ouvinte – ou, pelo menos, o ouvinte ingênuo – concorda com as conclusões em função do poder persuasivo do argumento, e não por razões mais diretamente relacionadas com sua validade. (.....) A natureza humana é tal que as pessoas aceitam ideias e planos de ação por razões emocionais e pessoais, por questões de valores, conveniência ou preferência, muito mais do que por razões puramente racionais.
Finalmente, sugerimos que uma característica essencial do cientista ( do homem inteligente, grifo meu), bem preparado é seu sentido crítico. Além de adquirir conhecimento na sua área de especialização, a pessoa com senso crítico levanta dúvidas sobre aquilo em que se comumente acredita, explora rigorosamente alternativas através da reflexão e avaliação das evidências, com a curiosidade de quem nunca se contenta com o seu estado atual de conhecimento. Assim, ela tende a ser produtora ao invés de apenas consumidora do conhecimento, não podendo aceitar passivamente as ideias dos outros.
(CARARRER, David Wilian. Senso Crítico: do dia-a-dia às ciências humanas. São Paulo: Pioneira, 1993 ).

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial