ARGUMENTAÇÃO
PSICOLÓGICA
Quando uma pessoa apresenta e defende ideias
diante dos outros, ela está fazendo argumentação. (... ) Podemos definir como argumento,
qualquer conjunto de afirmações que inclua, pelo menos, uma conclusão. Quem
apresenta um argumento seja uma criança, um professor universitário, pedreiro
ou filósofo, usa premissas, às vezes chamadas de evidências, para defender ou
fundamentar sua conclusão. Pressupõem-se que o ouvinte aceitará a conclusão, se levar as evidência em
consideração. (....)
As funções dos argumento são tão diversas, quanto
os motivos que nos levam a nos comunicar com os outros. Argumentos bem
apresentados podem ajudar-nos a receber vantagens materiais, passar em provas,
fundamentar as conclusões de uma investigação, iludir um freguês, racionalizar
nossos erros, ridicularizar um oponente. ( .....) Podemos chamar esse tipo de
atividade pragmáticos, no sentido de que a comunicação é instrumental, ao
invés de ser apenas uma de representar ou de desenvolver conhecimento.
A pragmática trata das funções e dos significados
da linguagem no contexto social. (.....) Após pisar no pé de uma outra pessoa
inadivertidamente, a frase “Uai, eu não sabia que você estava aí”, seria
interpretada como uma negação de intencionalidade, por parte do autor, e uma
tentativa de reduzir a tensão sentida pelas duas partes em função do incidente.
A linguagem promove interesses e desempenha funções sociais (....) Com as entonações
certa, a frase “Uai, eu não sabia que você estava aí” , pode ter diversos
significados, até mesmo transmitindo ironia e sarcasmo.
Quando um argumento é especialmente elaborado para
apelar ao ouvinte, a argumentação resultante é chamada psicológica. A
argumentação psicológica tem duas características básicas: 1- comprometimento
forte: onde o que importa é defender uma ou mais conclusões, mesmo que implique
numa distorção dos fatos; 2 – a evidência escolhida especialmente para
convencer o ouvinte da validade das conclusões é normalmente emocional ou
psicológica.
(.....) A finalidade da argumentação psicológica é
vencer, conquistar ou provocar o ouvinte, e a evidência constitui a arma de
ataque. Se o ouvinte demonstrar que a evidência não tem valor, de seu ponto de
vista, o falante procura logo outras evidências.
Quem apresenta um argumento psicológico geralmente não está interessado em
induzir contemplação e reflexão racional no ouvinte, muito pelo contrário, a
finalidade é influenciar o outro, surpreendê-lo, ataca-lo inesperadamente,
comunicar urgência, trabalhar os sentimentos do outro para dominar a questão,
e, assim, salientar certos aspectos e menosprezar outros de modo que as defesas
do ouvinte não possam entrar em ação.
Para o falante, as conclusões não são o resultado
de uma avaliação das evidências, por mais que se insista que o sejam, mas, sim,
o próprio ponto de partida do argumento. Observações que possivelmente iriam
colocar uma conclusão em perigo são ignoradas ou ativamente menosprezada de
diversas maneiras.
(.....) O
fato de uma pessoa usar um argumento psicológico não implica em que ela esteja
necessariamente defendendo um ponto de vista errado, ou que não considere fatos
relevantes. O problema é que o argumento é de tal forma, que o ouvinte – ou,
pelo menos, o ouvinte ingênuo – concorda com as conclusões em função do poder
persuasivo do argumento, e não por razões mais diretamente relacionadas com sua
validade. (.....) A natureza humana é tal que as pessoas aceitam ideias e
planos de ação por razões emocionais e pessoais, por questões de valores,
conveniência ou preferência, muito mais do que por razões puramente racionais.
Finalmente, sugerimos que uma característica
essencial do cientista ( do homem inteligente, grifo meu),
bem preparado é seu sentido crítico. Além de adquirir conhecimento na sua área
de especialização, a pessoa com senso crítico levanta dúvidas sobre aquilo em
que se comumente acredita, explora rigorosamente alternativas através da
reflexão e avaliação das evidências, com a curiosidade de quem nunca se
contenta com o seu estado atual de conhecimento. Assim, ela tende a ser
produtora ao invés de apenas consumidora do conhecimento, não podendo aceitar
passivamente as ideias dos outros.
(CARARRER, David Wilian. Senso Crítico: do
dia-a-dia às ciências humanas. São Paulo: Pioneira, 1993 ).
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