quinta-feira, 5 de maio de 2022

 

EU TENHO UM SONHO               ( Martin Luther King Jr.)

Em 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil pessoas se reuniram entre o Monumento de Washington e o Memorial de Lincoln na capital dos Estados Unidos para uma demonstração pacífica em prol da luta pelos direitos humanos. O ponto alto foi o discurso proferido  pelo Reverendo Martin Luther King Jr., no qual conclamava o povo a trabalhar com fé, pois assim  sobreviria uma mudança e algum dia todos seriam julgados não pela cor da pele, mas por seu caráter. 

Há um século, um grande norte-americano, cuja sombra simbólica nos dá alento hoje, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse momentoso decreto chegou como o grande farol da esperança para milhões de escravos negros,  que haviam sido marcado pelas brasas de vergonhosa injustiça. Chegou como alegre despertar que viria pôr um fim à longa noite de cativeiro.

Porém, cem anos depois, precisamos encarar o trágico fato de que os negros ainda não são livres. Cem anos depois, a vida do negro ainda é prejudicada pelos grilhões da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos depois, o negro vive numa ilha solitária de pobreza em meio ao vasto oceano da prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda definha nos cantos da sociedade norte-americana e é exilado em sua própria terra. Pois estamos aqui hoje para expressar dramaticamente essa condição estarrecedora.

De uma certa forma, viemos para a capital do país para descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram aquelas palavras magníficas da Constituição e da Declaração de Independência, estavam assinando uma nota promissória à qual todos os cidadãos norte-americanos viriam a ter direito. Essa nota era a promessa de que todos os homens teriam garantidos os inalienáveis direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade. 

Hoje, é óbvio que os Estados Unidos não cumpriram com os termos dessa nota, no que tange aos cidadãos de cor. Em vez de honrar essa obrigação sagrada, um carimbo dizendo “sem fundos”. Recusamo-nos, porém, a acreditar que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar que sejam insuficientes os fundos nos grandes cofres de oportunidades deste país. Viemos, então, descontar esse cheque – um cheque que nos dará sempre que solicitarmos a riqueza da liberdade e a segurança da justiça.

Também viemos a este lugar santificado para relembrarmos os Estados Unidos da imperiosa urgência de agora . Não é hora de permitir o luxo do arrefecimento ou de se tomar o tranquilizante do gradualismo. Agora é hora de realizar as promessas da democracia. Agora é hora de emergir do escuro e desolado vale da segregação rumo ao caminho ensolarado da justiça racial. Agora é hora de retirar nosso país do lodaçal da injustiça racial e coloca-lo sobre a sólida rocha da fraternidade.

Seria fatal para o país negligenciar a urgência do momento e subestimar a determinação dos negros. Este sufocante verão de legítimo descontentamento dos negros não passará  até que sobrevenha o revigorante outono de liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas sim, um começo. Aqueles que esperam que os negros estejam satisfeitos agora, depois de ter aliviado a pressão, terão um difícil despertar se o país voltar que era antes. Não haverá descanso nem tranquilidade nos Estados Unidos até que os negros desfrutem de seus direitos de cidadania. A tormenta da revolta continuará abalando os alicerces de nosso país até que surja o belo dia da justiça.

Mas há algo que preciso dizer ao meu povo que se encontra no aconchegante limiar de acesso ao palácio da justiça. No processo de conquista do nosso lugar de direito, não devemos aceitar a culpa de erros passados. Não vamos saciar a sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. Devemos sempre conduzir nossa luta no elevado plano da dignidade e da disciplina. Não devemos  permitir que nosso protesto criativo se degenere em violência física. Devemos estar nos elevando constantemente às majestosa alturas do confronto à força física pela força do espírito. (...)

Jamais poderemos estar satisfeitos enquanto os negros continuem  sendo vítimas dos inefáveis horrores da truculência policial. (,,,,)

Digo hoje para vocês, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente arraigado no sonho norte-americano.

Sonho que este pais um dia se levante e passe a viver o significado real de seu credo: “Tais verdades são, para nós, evidentes: que todos os homens  são criados em igualdade”.

Sonho que um dia, sobre as colinas avermelhadas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos donos de escravos possam se sentar juntos à mesa da fraternidade.

Sonho que um dia, até mesmo o estado do Mississippe, um deserto sufocante do calor da injustiça e opressão, venha a ser transformado num  oásis de liberdade e justiça.

Sonho que meus quatro filhos um dia vivam num país onde não serão julgados pela cor da pele mas por seu caráter.

Eu tenho um sonho hoje.

Sonho que um dia o estado do Alabama, cujo governador tem nos lábios as palavras da intervenção e ada anulação, venha se transformar numa situação onde criancinhas negras possam andar juntas e de mãos dadas com as brancas, como crianças irmãs. (.....)

É essa nossa esperança. É essa a fé com que volto para o sul. Com ela poderemos escavar da montanha do desespero a pedra da esperança. Com ela poderemos transformar a discórdia dissonante de nosso  país numa bela sinfonia de fraternidade. Com essa fé conseguiremos trabalhar juntos, orar juntos, lutar juntos, ir presos juntos, unirmo-nos em prol da liberdade juntos, sabendo que um dia seremos livres. (...)

Se deixarmos que soe a liberdade, se a deixarmos soar em todos os vilarejos e povoados, em todos os estados e em todas as cidades, conseguiremos  antecipar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, semitas e não semitas, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras do antigo spiritual dos negros. “Livres, finalmente! Livres, finalmente! Graças a Deus Todo Poderoso, estamos livres, finalmente!

( o livro das virtudes: uma analogia  de William J. Bennet \ selecionado e adaptados de ed. Americana por) Luiz Raul Machado – Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1995.

 

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