segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


PELA ÉTICA NO TRABALHO

Um pais que exclui, que não se organiza para propiciar trabalho, emprego, renda para todos os seus habitantes, não é ético, é perverso. Uma economia que não integra todas as pessoas não é ética. Uma sociedade que só oferece possibilidades de trabalho normal, regular, remunerado para uma minoria e que deixa a maioria à margem, à míngua, não é democrática; é imoral.
Depois de tantos anos do chamado “desenvolvimento”, percebemos que o Brasil é um paraíso para uma minoria, um purgatório para a maioria e um inferno para 20% de seu povo. E tudo isso porque exclui do trabalho, do emprego, da renda e da terra a maior parte de sua própria população.
A Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, depois de mobilizar o conjunto da sociedade para se confrontar com o problema da fome, depois de distribuir alimentos para muita gente, depois de se organizar em milhares de comitês e, principalmente, de despertar uma grande onda de solidariedade humana como jamais se viu entre nós, está desafiada a dar um passo à frente no processo de mudança do país.
Para erradicar a miséria é fundamental repensar toda a economia, reorganizar toda a política, transformar toda a nossa cultura, para chegarmos a um país onde todas as pessoas tenham trabalho e possam viver dignamente de seus salários, possam comer segundo suas necessidades e preferências, educar seus filhos e garantir saúde e segurança para todos os membros de sua família. É fundamental dar um passo à frente em direção ao trabalho. Em sua primeira fase, a da solidariedade contra a fome, a campanha teve de enfrentar muitas dúvidas e críticas: “Distribuir comida é assistencialismo” diziam. Não resolve, não leva a nada”, afirmavam. “O fundamental é ensinar a pescar e não dar o peixe”, filosofavam, enquanto aguardavam as reformas estruturais que, estas sim, prometem o fim da miséria. Mas, não se perguntavam se a sociedade estava disposta a compartir o que tinha, se cada um queria cuidar de si ou de todos. Se queriamos ser uma nação ou um bando de gente cuidando da própria sobrevivência.
A campanha demonstrou que é possível distinguir assistencialismo de solidariedade humana. Que para pescar é preciso estar vivo. Que a solidariedade humana é fundamental na emergência dos que morrem de fome enquanto aguardam a materialização das propostas de mudanças de estruturas. E essas reformas estruturais só acontecem quando as mudanças do dia a dia ocorrem pela ação das pessoas de todas as pessoas. Mais do que isso, a campanha ganhou a alma e a mão da população brasileira, abrindo as duas para a solidariedade. Agora estamos diante de um desafio maior. Não somente distribuir comida, mas dar trabalho, inventar emprego, integrar todas as pessoas em atividades remuneradas. Com salário, cada um pode começar a exercer minimamente sua cidadania. E vamos reproduzir o sucesso da primeira fase da campanha. A maioria aprovou e participou da campanha. A maioria agora vai mudar o rumo do Brasil pela via do trabalho.
Vamos questionar tudo principalmente o rumo que nos levou à miséria, a esse apartheid social que se chama “Brasil”. Vamos questionar a política econômica dos governos federais, estaduais e municipais: quantos empregos irão gerar? Quantas pessoas irão começar a trabalhar? Quantos empregos o governo Itamar vai gerar em 1994? Essa é uma questão crucial. Que contribuição efetiva darão os ministérios, principalmente o da Fazenda? Quantos empregos as 4794 prefeituras do país irão gerar? Os governadores e todos os seus secretários? Os grandes, médios e pequenos empresários? A FIESP, o PNBE, O Simpi, o Sebrae, a CNI? E os empresários agrícolas? Os detentores dos 100 milhões de hectares de terras ociosas? Quantos empregos a terra pode.............................................................................................................................................cima, dos governos, das instituições da chamada “estrutura”, apontada como a causa de toso os males e soluções.
Mas existe uma outra mudança, outra resposta que virá da sociedade como os milhares de comitês da campanha poderão contribuir para a geração de empregos? Como as pessoas comuns poderão gerar novas oportunidades de trabalho para o comum das pessoas? Essa é a grande questão dessa fase da campanha e o caminhos seguro de seu sucesso. A solução da primeira etapa veio da planície, com participação do Planalto. O sucesso da segunda etapa também virá da sociedade. Gente é que gera emprego para gente. Gente é que gera trabalho para as pessoas. A sociedade é que muda o rumo das polítcas do Estado e inventa novos modos de sua própria existência. A economia na verdade é a soma ou a divisão de todos nós. Nessa campanha aprendemos a somar e a integrar contra uma economia que se especializou em dividir e excluir.
Neste ano teremos uma eleição quase geral. Vamos perguntar a todos os candidatos, a todos os níveis, que propostas eles têm para gerar emprego, criar trabalho, distribuir renda, democratizar a terra. Cada comitê vai se transformar em um grupo de pressão, de pergunta, de mudança.
O Brasil poderá transformar 1994 no ano da mudança. De um país de uns poucos para o Brasil de todos, vivendo e trabalhando para viver com dignidade, com ética, com cidadania.
( C arla Rodrigues: Hebert de Souza. Etica e cidadania. São Paulo: Moderna, 1994.)

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