segunda-feira, 18 de março de 2013

SOBRE JEQUETIBAS E EUCALIPTOS - AMAR

Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.
Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e - quem sabe? - necessárias. Destruído esse habitat, a vida vai se encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até sumir.
Com o advento da indústria como poderia o artesão sobreviver? Foi transformado em operário de segunda classe, até morrer de desgosto e saudade. O mesmo como os tropeiros, que dependiam das trilhas estreitas e das solidões, que morreram quando o asfalto e o automóvel chegaram.
(...)_ E o educador? Que terá acontecido com ele? Existirá ainda o nicho ecológico que torna possível a sua existência? (...) Uma vez cortada a floresta virgem, tudo muda. È bem verdade que é possível plantar eucaliptos, essa raça sem vergonha que cresce depressa, para substituir as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer nem plantou. Para certos gostos, fica até mais bonito; todos enfileirados, em permanente posição de sentido preparados para o corte. E para o lucro.
Que me entendam a analogia. Pode ser que educadores sejam confudidos com professores, da mesma forma como se pode dizer: Jequetibás e eucaliptos, não é tudo árvore, madeira? No final, não dá tudo no mesmo? Não, não dá tudo no mesmo. (....) Eu diriria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma fase, um nome, uma "estória" a ser contada. Habitam um mundo em  que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma "entidade" sui generis portador de um nome, também de uma "estória", sofrendo tristezas e alimentado esperanças. E a educação é algo pra acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabeleça a dois. Espaço artesanal.
O educador, pelo menos o ideal que minha imaginação constrói, habita um mundo em que a interioridade faz uma diferença, em que as pessoas se definem por sua visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos. O professor,  ao contrário, é funcionário de um mundo dominado pelo Estado e pelas empresas. É uma entidade gerenciada, administrada segundo a sua excelência funcional, excelência esta que é sempre julgada a partir dos interesses do sistema.
( ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. SP: Cortez, 1989; p.30).

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